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Marciano Lopes
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Poemas de Marciano Lopes
No limite *
Num mundo videoestilhaçado
deve o poema também sê-lo?
Em canais latrinobabélicos
deve o poema signosilenciar?
Narcisopausterizado na massa
deve o poeta e(x)goelar-se?
Ou a saída seria dispará-lo à seco
cilada selada com muito desvelo?
* da série Línguas
em fogo
Aos inventores do nada *
rimbaud no meio
da vida
abandonou esgotada
a vulgívaga poesia:
converteu-se ao imperialismo
roubando marfins da pobre África
os poetas inventores
da pós-modernidade
são muito mais espertos
(aprenderam com o gerson)
“marketamos zen
abandonar a poesia
dela fazemos acre silên
baba babu
cio
receita de hipócrates
parazia”
pura hipocrisia
* da série Línguas
em fogo
Há muito que não
escrevo *
Há muito que não
escrevo.
Aos alunos e colegas
respondo com siso:
"Outras
lidas
têm me consumido."
Aos amigos
e poetas
queridos,
replico com
graça:
"Ando tão
sem tesão,
nem falo, nem estalo!"
Já aos críticos
e poetas de plantão
todavia digo:
"Lancei meus
versos
na lata de lixo reciclável,
estou a procura
de uma poética sustentável".
Mas ao teto mofado
que nada me adaga
somente assopro:
"Nada mais me agrada."
(e a fumaça
sumindo
a(r)ranha
em infinitas risadas ...)
* da série Línguas
em fogo
Da difícil tarefa de ser ator
Ser ator é moleza,
barra é ser professor.
Interpretar todo dia
sem ao menos ter um palco
por salvação
não é pra qualquer um
só para hipócritas
e ratinhos
de labotoratório.
Viver por tanto
então
nem se fale.
Somente louco
ou artista.
Tanto vale.
Mitomotocontínuo
(poema em processo)
pressão
repressão
depressa
depressão
pensa
prensa
com$$
pensa
im
pre$$
cisão
prensa
@ com ágio
plu$
plágio
.com riso
sarcástico
prático
fático
fétido
& ácido
não dis
pensa
versão
com im
pre$$
cisão
dê
prensa
dê
pressa
res
prensa
com
pressão
precisão
produção
repressa
repressão
im-
pre$$
são?!
com pressa
pre$$ágio
plu$ plágio
sarcástico
adágio
res im
pre($)sa
ma$$
acre
ácido
fatídico
&
(en)fático
(mítico
místico
fóssil
fétido
sifilítico
mágico
lindo
míssel
via mídia
com$$
pre$$a
com
pensa
fala Cia
ção)
im
pre$$
................cão!
pressa
dispensa
responsa
prensa
comprime
inventa
má mão
para
pre$$
cisão
re(s)para
prensa
preza
repensa
pre$$
tável
pró
fissão
@ com
res
ponsa
brother
mano
ir
mão
Luz das estrelas
gemidos
suspiros roucos
sussurros surdos insanos
vontades olvidadas
veladas velhas verdades
chagas chamejantes
xanas encharcadas
xotas enchorcalhadas
com cancros escancarados
com cancãs todos toldados
em cacos encalacrados
roda
valetes & vedetes
xuxetes & chacretes
mancebos mancebados
manchagados em manchetes
mix remix de dados amixordados
SOB A LÂMPADA !
cirandando cirandando
cirandando só
em suspiros loucos
murmúrios beijos boxixos
eunucos & moucos
sussurrando verdades
vontades aviltadas
veladas pulhas metades
com cancros chagas cancãs
xanas xotas xexecas
chamejantes
encharcadas
enchorcalhadas
enxanadas
SOB A LÂMPADA !
cirandando cirandando
cirandando só
em gemidos surdos
roucos loucos insanos
com cancros encalacrados
mil cacos estilhaçados
espalhando pelo caminho
xotas
chagas
xanas
ganas de esganar
SOB A LÂMPADA !
viandante viandante
viandante só
CORTA!
DEZ EPIGRAMAS LIGHTS
1
Civilização
Formiguinhas carregando
um Louva-a-Deus morto.
2
Dantesco
A vida é tão dura
que só de pensar
dá paúra.
3
Differénce
Beber até cair.
A felicidade do bêbedo
não é mesma do faquir.
4
Graves trópicos!
Já pensaste quão grave seria para
Newton
se em vez de uma maçã lhe caísse
uma jaca na cabeça?!
Adeus gravidade!
5
Epigrama dialético
Sai de baixo!
As bases
estão caindo!
6
Insuportável mente
Qorpo
Santo in mente sana
é loucura demais
pra babacas e bacanas!
7
Louvação anti-horaciana
Oração, oratória, coação...
Pra amenizar a dor, oh irmãos,
pregai a língua do Senhor.
8
O naufrágio de Victor Meirelles
Batalha Naval do Riachuelo.
Triste tela apodrecida,
náufraga na memória.
9
Operário padrão
É preciso socar paulada todo mês
para nunca virar pequeno-burguês!
10
Santíssima Trindade
Big Mac
Big
Brother
Big Bush
Pequena ode lírica à (ainda verde) Cidade Canção
Nunca vi cidade
mais linda
e tão jovem! Tão propícia à arte
que seus músicos e poetas
lhe estendem o chapéu na mão!
Nela, as flores são mais flores
e as pedras são muito mais pedras!
Casimiro ou João Cabral
pouco importa, é tudo igual!
(Desde que não se introduza
a palavra fezes no poema.)
Nem a Carlos Drummond de Andrade
a lhe dever ficamos nós.
Se cá a flor não rompe o asfalto
na lama mais bela ela floresce!
(Quem dias de chuva aqui passa
o seu perfume jamais esquece.)
Que mal faz se todo bom dia
árvores nativas desabem
quando da terra que desertam
brota a modernidade em pó?
Primeiros, segundos, terceiros...
assim caminha a humanidade
e inventam-se tradições com
ídolos de Barros no altar!
(Revestidos com lã de carneiro
nossos olhos se enternecem muito mais...)
Sonhos de uma tarde de verão
Degusto a cerva gelada
numa tórrida tarde de terça
e por instantes sonho
que sou feliz.
Mas eis que
de repente!
um podre cheiro de merda
minhas narinas invade.
Troco de bar
mas a cerveja
já não é a mesma.
(redondos descem os sonhos
embrulhados no estômago)
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Arte: detalhe da pintura "Alegoria dos
Fluxos", de donLeal, feita no banheiro do Bar e Restaurante Padoka, mais
conhecido como "bar do Adão".
Foto: Sansão (Fábio Freitas)
Observação: este poema não foi feito nas mesas (e
nem na privada) do Padoka, mas poderia ter sido, pois expressa muito bem o
momento que nós frequentadores do local vivemos. Devido a uma insensata (pra
não dizer outra coisa) lei aprovada na Câmara de Vereadores de Maringá,
proibindo a venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais
distantes até 150 metros dos portões das IES desta cidade, não é mais
possível a digna e salutar opção de se beber uma beer no bar do Adão.
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Marciano Lopes – Nome artístico de Marciano
Lopes e Silva. Graduado em Oceanologia e Letras pela Fundação Universidade de
Rio Grande, é mestre e doutor em Letras (UFRGS, 1994; UNESP, 2005). Foi
professor da Universidade Estadual de Londrina e, desde 1997, leciona na
Universidade Estadual de Maringá. Como poeta, publicou dois livros, sendo que
o segundo, intitulado A contrapelo
(Maringá: Clichetec, 2007), foi premiado pela Lei de Incentivo à Cultura em
Maringá e é acompanhado por um CD que reúne dez compositores que residiam na
cidade. Atualmente publica seus textos
no blog MetAArte: http://marcianolopes.blogspot.com.
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