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Marciano Lopes

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SarauOP Fábio Pereira 029.jpg

Poemas de Marciano Lopes

 

 

 

No limite *


Num mundo videoestilhaçado
deve o poema também sê-lo?

Em canais latrinobabélicos
deve o poema signosilenciar?

Narcisopausterizado na massa
deve o poeta e(x)goelar-se?

Ou a saída seria dispará-lo à seco
cilada selada com muito desvelo?

 

 

* da série Línguas em fogo

 

 

 

 

Aos inventores do nada *

 

 

rimbaud no meio da vida
abandonou esgotada
a vulgívaga poesia:
converteu-se ao imperialismo
roubando marfins da pobre África

os poetas inventores
da pós-modernidade
são muito mais espertos
(aprenderam com o gerson)

“marketamos zen
abandonar a poesia
dela fazemos acre silên
baba babu
                       cio
receita de hipócrates
parazia”

pura hipocrisia

 

 

* da série Línguas em fogo

 

 

 

 


Há muito que não escrevo *

 

 

Há muito que não escrevo.

 

Aos alunos e colegas
respondo com siso:

"Outras lidas
têm me consumido."

 

Aos amigos

e poetas queridos,

replico com graça:

"Ando tão sem tesão,
nem falo, nem estalo!"

 

Já aos críticos
e poetas de plantão
todavia digo:

"Lancei meus versos
na lata de lixo reciclável,
estou a procura
de uma poética sustentável".

Mas ao teto mofado
que nada me adaga
somente assopro:
"Nada mais me agrada."

 

(e a fumaça sumindo

a(r)ranha
em infinitas risadas ...)

 

 

* da série Línguas em fogo

 

 

 

 

Da difícil tarefa de ser ator

 

 

Ser ator é moleza,
barra é ser professor.

Interpretar todo dia
sem ao menos ter um palco
por salvação
não é pra qualquer um

só para hipócritas
e ratinhos
de labotoratório.

Viver por tanto
então
nem se fale.

Somente louco
ou artista.
Tanto vale.

 

 

 

 

Mitomotocontínuo
(poema em processo)

 

 

pressão
repressão
depressa
depressão

pensa
prensa

com$$

pensa
im
pre$$
cisão

prensa
@ com ágio
plu$

plágio
.com riso
sarcástico
prático
fático
fétido
& ácido
não dis
pensa
versão
com im
pre$$
cisão


prensa

pressa
res
prensa
com
pressão
precisão
produção
repressa
repressão

im-
pre$$
são?!

com pressa
pre$$ágio
plu$ plágio
sarcástico
adágio

res im
pre($)sa
ma$$
acre
ácido
fatídico
&
(en)fático

 

(mítico

místico

fóssil

fétido
sifilítico
mágico
lindo
míssel
via mídia
com$$

pre$$a

com

pensa
fala Cia

ção)

im
pre$$
................
cão!

pressa
dispensa
responsa

prensa
comprime
inventa
má mão
para
pre$$
cisão

re(s)para
prensa
preza
repensa
pre$$
tável
pró
fissão

@ com

res

ponsa

brother

mano

ir

mão

 

 

 

 

Luz das estrelas

 

 

 

 

gemidos
suspiros roucos
sussurros surdos insanos

vontades olvidadas
veladas velhas verdades

chagas chamejantes
xanas encharcadas
xotas enchorcalhadas

com cancros escancarados
com cancãs todos toldados
em cacos encalacrados

roda

valetes & vedetes
xuxetes & chacretes

mancebos mancebados
manchagados em manchetes

mix remix de dados amixordados

SOB A LÂMPADA !

cirandando cirandando
cirandando só

em suspiros loucos
murmúrios beijos boxixos
eunucos & moucos

sussurrando verdades
vontades aviltadas
veladas pulhas metades

com cancros chagas cancãs
xanas xotas xexecas

chamejantes
encharcadas
enchorcalhadas
enxanadas

SOB A LÂMPADA !

cirandando cirandando
cirandando só

em gemidos surdos
roucos loucos insanos

com cancros encalacrados
mil cacos estilhaçados
espalhando pelo caminho

xotas
chagas
xanas
ganas de esganar

SOB A LÂMPADA !

viandante viandante
viandante só

CORTA!

 

 

 

 

DEZ EPIGRAMAS LIGHTS

 

 

 

1
Civilização

 

 

Formiguinhas carregando

um Louva-a-Deus morto.

 

 

 

2
Dantesco

 

 

A vida é tão dura

que só de pensar

dá paúra.

 

 

 

3
Differénce

 

 

Beber até cair.

A felicidade do bêbedo

não é mesma do faquir.

 

 

 

4
Graves trópicos!

 

 

Já pensaste quão grave seria para Newton

se em vez de uma maçã lhe caísse

uma jaca na cabeça?!

Adeus gravidade!

 

 

 

5
Epigrama dialético

 

 

Sai de baixo!

As bases

estão caindo!

 

 

 

6
Insuportável mente

 

 

Qorpo Santo in mente sana
é loucura demais
pra babacas e bacanas!

 

 

 

7
Louvação anti-horaciana

 

 

Oração, oratória, coação...

Pra amenizar a dor, oh irmãos,

pregai a língua do Senhor.

 

 

 

8
O naufrágio de Victor Meirelles

 

 

Batalha Naval do Riachuelo.

Triste tela apodrecida,

náufraga na memória.

 

 

 

9
Operário padrão

 

 

É preciso socar paulada todo mês

para nunca virar pequeno-burguês!

 

 

 

10
Santíssima Trindade

 

 

Big Mac

Big Brother

Big Bush

 

 

 

 

Pequena ode lírica à (ainda verde) Cidade Canção

 

 

Nunca vi cidade mais linda
e tão jovem! Tão propícia à arte
que seus músicos e poetas
lhe estendem o chapéu na mão!

Nela, as flores são mais flores
e as pedras são muito mais pedras!
Casimiro ou João Cabral
pouco importa, é tudo igual!

(Desde que não se introduza
a palavra fezes no poema.)

Nem a Carlos Drummond de Andrade
a lhe dever ficamos nós.
Se cá a flor não rompe o asfalto
na lama mais bela ela floresce!

(Quem dias de chuva aqui passa
o seu perfume jamais esquece.)

Que mal faz se todo bom dia
árvores nativas desabem
quando da terra que desertam
brota a modernidade em pó?

Primeiros, segundos, terceiros...
assim caminha a humanidade
e inventam-se tradições com
ídolos de Barros no altar!

(Revestidos com lã de carneiro
nossos olhos se enternecem muito mais...)

 

 

 

 

 

Sonhos de uma tarde de verão

http://3.bp.blogspot.com/_7vN2GsyAFbU/S0_7R_Sq7ZI/AAAAAAAAAYk/2-hxEQDfSTo/s320/Fluxos-Padoka-4.jpg



Degusto a cerva gelada
numa tórrida tarde de terça
e por instantes sonho
que sou feliz.

Mas eis que
de repente!
um podre cheiro de merda
minhas narinas invade.

Troco de bar
mas a cerveja
já não é a mesma.

(redondos descem os sonhos
embrulhados no estômago)

 

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Arte: detalhe da pintura "Alegoria dos Fluxos", de donLeal, feita no banheiro do Bar e Restaurante Padoka, mais conhecido como "bar do Adão".

Foto
: Sansão (Fábio Freitas)

 

Observação: este poema não foi feito nas mesas (e nem na privada) do Padoka, mas poderia ter sido, pois expressa muito bem o momento que nós frequentadores do local vivemos. Devido a uma insensata (pra não dizer outra coisa) lei aprovada na Câmara de Vereadores de Maringá, proibindo a venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais distantes até 150 metros dos portões das IES desta cidade, não é mais possível a digna e salutar opção de se beber uma beer no bar do Adão.

 

 

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marciano Marciano Lopes – Nome artístico de Marciano Lopes e Silva. Graduado em Oceanologia e Letras pela Fundação Universidade de Rio Grande, é mestre e doutor em Letras (UFRGS, 1994; UNESP, 2005). Foi professor da Universidade Estadual de Londrina e, desde 1997, leciona na Universidade Estadual de Maringá. Como poeta, publicou dois livros, sendo que o segundo, intitulado A contrapelo (Maringá: Clichetec, 2007), foi premiado pela Lei de Incentivo à Cultura em Maringá e é acompanhado por um CD que reúne dez compositores que residiam na cidade.  Atualmente publica seus textos no blog MetAArte: http://marcianolopes.blogspot.com.

 

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