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Ivan Teo

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POEMAS DE IVAN TEO

 

Aquilo que se quer de bem

 

Voltar é verbo retransitivo

Transgressor

Longínquo

Sem medida

Nem direção

 

Toda palavra só fala aquilo que se quer ouvir

Para o próprio bem

Eis-nos

Ethos

Fantasia

 

A moral do mundo é este abismo

Entre nós...

 

 

 

Estrela e chão

 

Minha alegria não sei esconder.

Tampouco da tristeza faço conta

o silêncio, como sói acontecer.

Sou chão e estrela e todo o resto é mar...

 

A minha alegria não tem mistério,

é alegria de sorriso aberto:

rio de tudo que passa e tem graça

e do que ainda não se sabe certo.

 

Já tristeza é estar mais perto do chão,

ausente do brilho que tem a estrela...

É ver só com olhos, sem coração.

 

 

 

(Haicai sem título)

 

 

Queria ser o vento

Em vida, sê-lo não pude

Fui ter ao relento...

 

 

 

(sem título)


Não basta saber o suco

Atrás de cada casca

Mas sorver a seiva

Depois da casca que o impede.

 

Uma noiva é o suco por detrás do véu

E despi-la desse véu

É saborear o suco em todo o seu mistério.

 

O objeto casca se contempla

Em formas inacabáveis

Não é para sentir o gosto que concentra

É fruta que se vê por fora.

 

Então, depois do dentro da fruta,

do suco por trás do véu,

Os olhos já não são os mesmos

Porque o mistério é muito maior...

 

 

 

 

 Zé Fausto

 

 

 

Todas as metas alcançadas,

Zé Fausto se pergunta:

e agora?

 

 

A MORTE PEDE PASSAGEM...

 

 

Zé Fausto esqueceu que se morria.

– Todo mundo morre, Zé,

e agora?

 

 

 

 

 

À terceira margem

 

Amar é ficar absurdo do mundo

Sem telefone ou endereço...

 

 

I

 

O óbvio de mim

Dentro de mim

Sempre a me dizer quem sou

Sem que eu peça...

 

O futuro que não tenho

O sonho que eu não sou

Minha realidade morta.

 

Só é possível conhecer a vida imaginando a morte

Essa é a alegria do tempo

Que nos engole a toda hora.

 

Mas, como dizer teu nome sem encontrar as palavras ...?

 

Melhor seria não dizer nada

E ir mais fundo,

A qualquer preço.

 

II

 

Uma mulher sorriu e me disse boa noite.

Eu, ouvindo “Cuide bem do seu amor”, do Paralamas

Deitado na sala de estar

Como um palhaço

Divertindo-se.

 

 

 (O olhar calmo e triste daquele homem

Ë a minha história,

Que sempre achei engraçada.

 

O problema é que graça de mais

Às vezes atrapalha.

Tira a outra margem do rio

que é de pedra.)

III

 

o amor não passa na TV

não é potência, é ato.

 

mais gesto que palavra,

desliza em todas as partes do corpo

sem ressentimento...

 

 

 

 

 Telurgia

 

A terra tece o homem que nela nasce

que se faz segundo seu relevo e seu desvelo

ele sai da terra apenas para voltar a ela

com saudade e carência de aconchego

 

acalanto do homem

terra em que nasce, qual semente de um novo fruto

e em que morre, qual folha seca de outono

para virar pó e sacramentar sua única sina

 

 

Terra-fênix, mãe do tempo, mãe da vida: amor!

 

Cicatriza a voracidade do tempo

e encobre as marcas da crueldade

para que a dor não seja tão grande

 

ampulheta, a contar as horas que restam

mesmo que ninguém perceba.

 

 

 

 

Reflexão

 

O que vejo no espelho é uma parte que não é minha.

Parte que bem conheço porque desconheço.

A parte que é minha tem no espelho nenhum começo.

 

Não hesito em quebrar todos os espelhos

E negar, assim, o reflexo das coisas aparentes

Que já existiam antes da necessidade do auto-espelhamento.

 

A parte que é a minha

Reflete-se por outros meios,

Para outros fins.

 

Para o fim de tudo o quanto existe

E sem saber por que tudo e quanto existem.

Ato pleno de abnegação!

O individual visto na não-imagem

Mas no fenômeno de si próprio:

Mistério e naturalidade.

 

 

 

           (sem título)

 

É a chuva caindo noite adentro

Escurecendo lenta e suavemente

A paisagem agora é só um vulto,

Uma música que se ouve longe...

 

Sob cortinas calmamente cerradas,

Os cavalos selvagens do meu sonho branco

Pisam caminhos já percorridos

E seguem o rumo de outras eras...

 

(Pela porta entreaberta, vê-se que são dois:

O em que vou e o outro,

Cuja face de quem vai

Eu ainda não posso enxergar

 

Pode ser uma vida inteira

Ou uma noite apenas

O tempo deste poema,

A chuva nesta floresta que não percebo o sol adiante...)

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Ivan Teo – Nome artístico de Ivan Luiz de Oliveira. Professor, músico e poeta. É formado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá.